Não te quero
Escrevo-te a partir do ano passado. Tenho sujos os pés, do caminho que percorri. Feridas. Marcas várias lembram-me que vivi por esses dias.
Escrevo-te sem saber o teu nome. Assim prefiro. É melhor saber-te desconhecida. Desidentificada. Morta, talvez. Feita da espuma dos mares.
Escrevo-te porque penso não voltar a ver-te. Ainda que o contrário seja o meu maior desejo. Perturbante? Porquê se foste tu quem se afastou para mais longe?
Escrevo-te ainda. E continuo. À procura de palavras. Em busca de um sal mais grosso que me vede a água que escorre destes olhos. A caminho de um porto qualquer.
Percebes? Fala! Diz. Não te retraias no silêncio. Não vale a pena. Não te quero ouvir calada. Não te quero.
Lisboa, 17/Novembro/96
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