11.5.06

Silêncios

Nada tens para me dizer. Nem eu a ti. Mas porque me falas? Porque te oiço e me surpreendo? Se te procuro é porque me completas. Se te falo, é por saber que me ouves. Bebe, bebe mais do cálice que te ofereço. Até que a embriaguez te obrigue a dizer-me tudo o que desejas, mas que ocultas quando sóbria.

Insulta-me agora – que é noite – com os rancores que guardaste todo o dia. Maltrata-me porque te ajudei. Desanca em mim o fel todo que tiveres. Testa-me a resistência, afoga-me até ao fundo do que nunca quis ouvir da tua boca.

Despedi-me de ti há pouco. “Diz-me que desapareça”, pedi-te. E tu disseste. E eu desapareci – ainda não sei se para sempre – desse remorso constantemente enrolado na garganta.

Se te firo com estas palavras, será pouco. Mereces mais, muito mais que o fel todo que alguma vez eu venha a conseguir tirar de mim. Que não o tenho.
Dou-me a ti e tu desdenhas. Vinga-te tu, enquanto bêbeda, sobre o teu próprio pecado. Amanhã, minha amiga, vou olhar-te como sempre te olhei. Ainda que me apeteça chamar-te, ficarei em silêncio.

Porque precisas de mim? Porque precisas?

Moscavide, 8/Setembro/98