11.5.06

Ranger de dentes

Percorro-me com um ranger de dentes. Persigo paixões abstrusas que me moem o corpo e o espírito. Sem o querer, sou vítima de mim mesmo. Da minha desvontade de abandonar o que, afinal, ainda desejo e quero para mim. Sinto-me só, no meio da turba. Pior.

Abandonado por quem diz que me quer. Constipado, embora com emprego seguro. Com quase trinta anos de idade e a barba por fazer. Uma vergonha, pá. Se soubesses quem eu sou. Por fora, desterrado de mim. Por dentro, um fruto roído de insectos. Se me visses, dirias, por certo, que sou eu. Vê se me encontras por aí um destes dias. Faz-me lá esse favor. Desculpa-me, já agora, a confidência. Como é mesmo que te chamas?

Moscavide, 11/Agosto/98