11.5.06

Fernando Alvim

És um homem vergado de idades, branco, pálido, hirto. Acompanhas uma guitarra portuguesa. És Fernando Alvim. Impressiona-me a tua tez de guitarrista, mais calma que a própria brandura. Oh, se me impressiona. Quando te olho, todo me arrepio. Porque nasce sincera toda essa tua atitude. Parece até que não sentes. Nunca te vi antes, mas é como se te conhecesse de há muito, meu velho. Já agora, quem te acompanha conhece-te, assim, tão bem quanto eu?

Batem por ti palmas de apreço e tu mais parece não existires frente a ninguém. Todo me revolto por não ter sequer um dedo da arte que te sai das mãos. Afinal, de todo o teu corpo. És tu quem se desprega do som dessa viola que empunhas. Quando casaste com ela? Ontem? Há 30 anos? Há mais? Caramba para o tempo, que o não tenho nas mãos, como tu. Quanto do teu tempo é o meu! Do meu, teu é nenhum.

Moscavide, 11/Agosto/98