11.5.06

Segunda pessoa singular

Foram três as flores no meu vaso. Duas murcharam. Sequei-as. Uma ainda a rego, todos os dias, com um enlevo que até a mim parece estranho. Não sei o que me diz essa terceira e nomeada vida, à qual ofereço estes gestos de água. Pergunto-me o que farei se não mais lhe mato a sede. A resposta que me acorre é ténue, trémula e difusa. Nem mesmo eu a compreendo. Mantenho-me firme na vontade de a manter húmida e, por isso, viva. Mas nem só de água se constroem as ofertas que lhe faço. A água com a qual lhe sacio a sede sou eu próprio, confundido, mascarado de oferta. Sou eu. Um eu inteiro, submisso à fragilidade que é a sua. Esta flor mata-me de sede. É a terceira. Última. Primeira!

Moscavide, 27/Julho/98