11.5.06

A noite é uma mulher

De novo me encontras. Face-a-face, à hora marcada. É certo que não passa de uma hora qualquer, um minuto defunto do dia. Seguro será também que te sinto a falta – essa eterna e oca sensação – a todo o momento. Sei por demais da certeza desse encontro prometido. E se o sei é porque o sol se pôs já, para além do alcance dos meus olhos, e se ocultou de novo, por ali, naquela curva redonda do mundo.

Refreio-me de vontades quando te encontro. Impedes-me de pensar. E esqueço-me de te dizer coisas. Fico, também eu, oculto atrás de uma curva qualquer da minha cabeça. Por essa razão me recolho sobre esta cadeira e enfrento o vazio que há entre nós dois, como quando não estamos. Quando é dia.

Vem-me à memória. Peço-te. Chega-te mais perto de mim. Acolhe-me nesse ventre de veludo escuro que sempre trazes contigo. Ah, se eu fora noite também!

Moscavide, 9/Agosto/98