11.5.06

Quando te olho nos olhos tudo acorda

Fazes-me falta aos olhos nas horas da manhã, quando não estás. E se não te encontro nessa busca estremunhada de te descobrir com o primeiro alvor do dia, é como se me despedisse de todo o frémito da vida de que me alimento. E de despedidas, menina, estou cansado.

Sob estas mãos afago agora os olhos que a noite fez enrugados, resguardo com elas as pupilas para melhor te ver depois, quando acordado.

Fazes-me falta aos olhos sempre que o teu verbo é não ser junto de mim. E dessa solidão embriagada em que me encontro nada sai, para além de um disfarçado suspiro de vontade de revirar a face desse verbo contradito. E do querer que o dia se alumie quando a densa mata só a escuridão reflecte e sente.

Quando te olho nos olhos tudo acorda. E a minha tez já não é a pálida luz que a custo avança sobre a mata. É antes a incandescente, intensa e forte sensação de te ver olhada a partir dos olhos que sou eu.

Moscavide, 3/Novembro/98